Com cortes de orçamento e demissões em massa, a indústria fonográfica brasileira enfrenta o reflexo de escolhas arriscadas: milhões investidos em artistas de um hit só, sem estratégia de carreira a longo prazo.
O Preço das Apostas Arriscadas
A indústria das grandes gravadoras no Brasil está vivendo um momento delicado. Nos últimos meses, diversos profissionais do setor foram surpreendidos com cortes de orçamento, demissões em massa e mudanças drásticas na forma de operar. O motivo por trás dessa reviravolta parece cada vez mais claro: o modelo de negócio focado em apostas arriscadas em artistas de “um hit só” está cobrando seu preço.
Nos bastidores, já se comenta que há “dinheiro demais na rua” — expressão usada para descrever investimentos que não retornaram. Gravadoras apostam alto em campanhas publicitárias, clipes milionários e contratos relâmpago com artistas que viralizam com um único som, mas não conseguem sustentar uma carreira sólida ou engajar um público fiel a longo prazo.
O Rap Como Exemplo
No rap, por exemplo, onde o trabalho de base, a construção de identidade e a conexão real com o público são fundamentais, fica ainda mais nítida a diferença entre artistas moldados por números e artistas forjados na rua.
A indústria precisa rever suas prioridades. Se quiser sobreviver ao colapso de sua própria ganância, terá que voltar a investir em carreira, não em clipe de 15 segundos. Ou, como diz a quebrada: não é só sobre fazer barulho — é sobre fazer história.
A Bolha do “Viraliza Agora”
Esse tipo de abordagem cria uma bolha. Quando o hype passa e os números não se mantêm, o prejuízo recai sobre toda a estrutura: da equipe que trabalhava esses projetos até os novos talentos que deixam de receber atenção, estrutura e desenvolvimento de carreira. Enquanto isso, artistas com consistência, conteúdo e potencial de crescimento no tempo continuam sendo deixados de lado por não apresentarem retorno imediato nas métricas.
É uma crise anunciada. A cultura do “virou trend, assina agora” acabou se tornando uma armadilha para as próprias majors, que se veem presas a um ciclo de apostas vazias, enquanto a cena independente segue crescendo de forma orgânica e com muito mais coerência artística.
Autor: Under Sesh