Enquadrar (v.t.d.): Emoldurar. Conter em seus limites. Reter (suspeito) para averiguação.
No dicionário, o verbo passa quase despercebido — frio, técnico, inofensivo. Mas, dependendo de quem lê, ele tem outro peso. Porque quem já foi enquadrado sabe: muitas vezes, o complemento desse verbo transitivo direto não sobrevive à ação.
Se, no Brasil, o enquadrado tem rosto, cor e jeito, Kayblack quer mostrar a sagacidade de quem caminha no fio da navalha diariamente. Em seu álbum-manifesto “A Cara do Enquadro”, que chega às plataformas no dia 31 de julho, via Warner Music Brasil e GR6, o artista mergulha profundo em suas origens para dialogar com um país. O resultado é um projeto catártico, com 10 faixas que misturam dores e glórias, fé e revolta, em uma estética musical poderosa, plural e, sobretudo, negra. Ao seu lado, ainda colaboram nomes como KLJay, MC Hariel, e outros que fortalecem o discurso realista do álbum.
UM KAYBLACK TOTALMENTE RENOVADO
Cada faixa é uma crônica viva das ruas, um retrato cru do que é ser jovem preto na periferia do Brasil — onde um simples enquadro pode ser sentença, onde sobreviver é ato político. Kayblack costura memórias, críticas sociais e vivências marcadas por perdas e conquistas, num flow visceral, que alterna entre o grito de protesto e o sopro de esperança.
“A Cara do Enquadro” não é apenas um disco, é um espelho desconfortável que o artista coloca diante do país, expondo as cicatrizes de um sistema que insiste em enquadrar sempre os mesmos corpos.